Portugueses confiam mais nos marketeers que nos publicitários e jornalistas
Um estudo sobre a confiança atribuída a 20 profissões, realizado este ano em 22 países pela GfK em parceria com o Wall Street Journal, revela que 61 por cento dos portugueses não confia nos publicitários. Nas funções mais desacreditadas em Portugal, depois dos políticos (86%), o trabalho do publicitários (61%) e a actividade dos empresários de grandes empresas (59%) são as mais citadas pelos portugueses. No meio da tabela aparecem os jornalistas (49%), os marketeers (42%) e os analistas de mercado (34%). A análise da GfK revela ainda que, na Europa, 67% dos inquiridos não acredita nos publicitários. A França, Holanda e Bélgica são os principais países que lhes dão nota negativa. Os franceses e holandeses são, também, os europeus que menos confiam nos marketeers, e na Grécia, Itália e Suécia estão os que menos acreditam nos jornalistas.
Das várias profissões em estudo, os portugueses avaliam de forma positiva o trabalho desenvolvido pelos bombeiros (94%), carteiros (89%), e professores da escola primária e secundária (88%).
A tendência seguida em Portugal é reforçada pelas respostas dos restantes países europeus, com 91% dos inquiridos na Europa a preferirem os bombeiros, 83% os médicos e 82% os professores.
Retirado na íntegra do jornal Meios e Publicidade (newsletter de 16/08/2008)
Na newsletter de hoje do jornal Meios e Publicidade - um importante periódico voltado para o meio publicitário de Portugal, sem deixar de fazer os melhores comentários sobre a propaganda mundial – li a matéria acima revelando dados curiosos sobre confiança profissional dos portugueses e da Europa como um todo, nos profissionais de publicidade e diversos outros. Como publicitário, professor, escritor e empresário do negócio de propaganda que sou, gostaria de aproveitar o momento para tecer alguns comentários sobre a questão. Não estou aqui intencionalmente questionando a veracidade da pesquisa realizada pela GfK, uma das maiores empresas de pesquisa do mundo que atualmente possui um staff com quase dez mil empregados e opera em mais de cem países atendendo a clientes dos mais diversos setores. Apenas fico pensando que motivos levaram a esse resultado. Talvez se o negócio da propaganda fosse melhor explicado, fosse visualizado de maneira mais ampla, as pessoas poderiam ter uma opinião diferente e mais favorável.
Na minha forma de ver as coisas penso que em toda profissão há o bom e o mau profissional e creio que isso já explica boa parte dos motivos dos resultados dessa pesquisa. Um mau exemplo de um profissional seja ele de que setor for afeta diretamente os seus pares e tal profissão pode até vir a ser questionada como duvidosa. Infelizmente essa é a verdade. Basta um mau ato de um profissional para que surjam grandes possibilidades de uma nuvem negra pairar sobre aquela profissão. Um policial ser corrupto não significa que todos os outros sejam. Um advogado, idem. Um médico vender receitas para engordar sua conta bancária não significa – e nem pode – que todos os outros médicos ajam da mesma maneira. Em todas as profissões existem o bom e o mau profissional, como já disse acima e em propaganda também. Talvez por isso e por peças duvidosas criadas por profissionais também duvidosos, as pessoas pensem que propaganda e marketing não passam de um engôdo. Mentira pura para enrolar o público-alvo e fazê-lo comprar aquele produto ou serviço anunciado. Algumas são sim. Alguns "profissionais" agem dessa maneira, sim. Mas a grande maioria é honesta e idônea.
Propaganda é um negócio mundial que movimenta um valor gigantesco em bilhões de euros e dólares. Gera uma quantidade inenarrável de empregos diretos e indiretos e obviamente contribui para os cofres dos governos com uma gorda arrecadação de impostos.
Os profissionais do setor estão constantemente investindo em seminários, fóruns de debates, tecnologia e em pesquisas de comportamento social preocupados em saber como funciona o consumidor de hoje, conhecê-lo melhor e entender como pode se comunicar mais facilmente com ele, na sua linguagem. Porque o de amanhã – e o amanhã de que falo é daqui há um mês – ninguém sabe. A velocidade com que as pessoas mudam sua maneira de ver o mundo, sua maneira de se relacionar com outras pessoas, sua maneira de consumir – e nisso inclua-se fidelidade a um produto, serviço ou idéia – é muito grande.
A publicidade é parte integrante de um contexto social uma vez que contribui para proporcionar a expansão dos conhecimentos de um povo através das mensagens publicitárias de muitas empresas. A boa e honesta propaganda educa, transforma, orienta, presta serviços, estimula o surgimento de milhares de opiniões sobre o que está se propondo a divulgar. Apesar de muita gente do setor dizer que propaganda vende, em minha opinião prefiro pensar que propaganda é um forte instrumento de venda do produto por apresentá-lo a um público com o propósito de vendê-lo. Com sua argumentação, sua explicação sobre o produto e as vantagens que o consumidor terá adquirindo-o tem influência direta nas vendas.
Porém, não adianta uma campanha belíssima e milionária sobre um novo tipo de tênis para corrida se ele não durar, não oferecer conforto, não for atraente plasticamente, não possuir a aderência adequada, não for ventilado e esquentar demais os pés do usuário, não tiver qualidade, enfim. Se o produto não for bom, de qualidade, não há propaganda que vá ajudar nas vendas; não adianta insistir porque ninguém vai comprar.
Por isso é necessário compreender melhor o trabalho desse profissional e a importância da propaganda num sentido mais amplo do que somente para divulgar um produto.
A veiculação de uma campanha nos diversos meios de comunicação demanda a participação de muitos profissionais. A produção de um filme comercial por exemplo pode envolver cem, duzentas trezentas pessoas até. Isso são empregos gerados direta e indiretamente. Produtoras tem seu staff mas a produção de um filme normalmente envolve muitos outros profissionais que podem ser contratados apenas para aquele serviço tais como: maquiadores, cabeleireiros, cenógrafos, coreógrafos, músicos, motoristas, designers, fotógrafos, iluminadores, estilistas de moda, faxineiros e muitos outros. Isso sem falar na contribuição para a lucratividade de muitas empresas – hotéis, companhias seguradoras, companhias aéreas, companhias de transporte rodoviário, locadoras de automóveis, locadoras de aeronaves, empresas de taxi, empresas de segurança, empresas de refeições industriais ou mesmo empresas de buffets – e por conseqüência ajudam essas firmas a continuar empregando pessoas que, com seus impostos, vão contribuir para o desenvolvimento de suas cidades, de seus países. Uma verdadeira reação em cadeia é o que pode provocar a simples produção de um comercial para TV.
A França aparece na pesquisa como sendo, juntamente com a Holanda, o país que menos acredita nos marketeers. Justamente a França, que realiza em Cannes o maior festival de propaganda do mundo. E propaganda e marketing andam lado a lado.
Outros países da Europa deixam clara a sua preferência pelos bombeiros e por professores e eu não posso deixar de concordar que são profissionais de extrema importância para todos. Mas vamos combinar que mesmo os bombeiros precisam se beneficiar de vez em quando com uma bela campanha publicitária institucional valorizando os seus bons trabalhos prestados a humanidade e as escolas e universidades precisam captar constantemente alunos para que se mantenham de pé. É aí que a publicidade e o marketing entram. Até você, para conseguir sucesso em uma entrevista para um emprego novo ou quando está querendo conquistar uma pessoa precisa de um bom marketing pessoal. E isso é ou não é propaganda? É ou não é marketing pessoal? E você; por acaso não está sendo então o seu próprio marketeer? Pense bem!