Por Marco Aurélio Cidade
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publicado por propagandaearte, em 29.07.08 às 19:32link do post | favorito

Num prédio em que morei, em Copacabana, havia um cãozinho chamado BILLY. BILLY era da raça Schnauzer do tipo miniatura, cinzento e vivo, muito vivo, vivíssimo. Com olhar doce e expressivo, BILLY estava sempre se movimentando de um lado pro outro, exceto quando sentia muito calo. Aí, ficava deitado no piso fresquinho da cozinha da minha vizinha, a dona Belinda, que era, obviamente, a sua dona. Aliás, eu estou mentindo; a dona de verdade mesmo do alegre animalzinho era a sua filha, que não morava no prédio, mas que, sabe-se lá o porquê, deixava o adorável pet com sua adorável mãe. Digo adorável porque, dado às atividades constantes de folguedos do pequenino exemplar da raça canina nos corredores e portaria do prédio e no apartamento da sua “avó”, permito-me aqui, chamá-la assim uma vez que, sempre que eu tinha a oportunidade ímpar de encontrar no prédio com a verdadeira dona do animalzinho ela lhe reservava sempre um tratamento muito carinhoso do tipo – Vem com a mamãe! – Não faz cocô no tapete da recepção que a mamãe já falou que não pode. – BILLY! Que coisa feia! Fazendo xixi outra vez no elevador! Ai, ai, ai! E se a dona era a “mãe”, dona Belinda, a dona-de-casa e solitária senhora deveria mesmo ser a avó. E era uma meiguice só; dessas meiguices de avó, que tudo permitem aos seus sempre espirituosos netinhos. Voltando ao nosso BILLY, todos no prédio concordavam: Era um cãozinho danado de esperto. Imagine que outro dia ele estava na portaria, deitadinho assim, quietinho, (devia estar descansando do almoço) no meio da passagem, quando chegou o Carlinhos, o garoto do 202, com um monte de bolas de aniversário. Dessas coloridas, sabe? Pois é, BILLY, na sua idolatria por crianças (não podia ver uma que saía logo correndo atrás pra brincar com elas) pulou sobre o Carlinhos e numa alegria contagiante começou a estourar freneticamente todas as bolas. Precisava ver. BILLY era só felicidade! E Paulinho também. Tanto que chorou à beça quando não havia mais nenhuma bola. Naturalmente porque queria continuar a gostosa brincadeira com BILLY. O exemplar canino era figurinha carimbada no prédio. Uma beleza de cãozinho e a garantia de uma vigilância constante contra meliantes e elementos que pudessem ser considerados suspeitos e estivessem zanzando pelos corredores. Imediatamente dava o sinal com latidos duradouros que alertavam a todos. BILLY latia muito também quando percebia, por debaixo da porta do apartamento onde morava, alguma movimentação no corredor do andar. Mas eram latidos de alegria porque sabia que era algum de seus vizinhos queridos chegando ou saindo. E não importava a hora do dia ou da noite. BILLY sempre se fazia presente dizendo esfuziante, na sua linguagem de cão – Oi! Estou aqui! Tudo bem com você? Ah! O BILLY... Ele era mesmo um amigão. Imagine você que uma vez eu estava voltando da praia num fim da tarde de um domingo de sol escaldante do verão do Rio. Encontrei uns amigos e depois de algumas cervejinhas e uns tira-gostos fui pra casa, pois estava “apertado” demais e não queria ir até a água do mar, que estava muito fria como normalmente está nos dias de verão. Fui “correndo” de acordo com o que me era permitido correr na situação em que eu me encontrava, desci até a garagem do meu prédio que, graças ao bom Deus, ficava bem próximo à praia, esperei o elevador que demorou um pouco, e subi até o meu andar. O décimo- segundo. Após longos e imensuráveis minutos, quando fui abrir a porta do elevador, adivinha quem eu escuto já me dando o sinal de que algo estranho estava acontecendo? O meu amiguinho BILLY!

Foi um sacrifício pro BILLY me deixar sair do elevador. Preocupado com a minha integridade física (o BILLY era assim com todos), pois tinha me visto descer para ir à praia e sabia que eu podia estar com areia nos pés, o que provavelmente provocaria uma queda daquelas, não me deixava de jeito nenhum sair do elevador; além disso, não queria que eu pisasse no xixi que algum incauto havia (pasme!) feito no corredor,  bem em frente ao elevador numa extensão que ia da porta do BILLY até a minha porta.

Que cãozinho magnífico! Acho que todo prédio deveria ter um BILLY; as pessoas viveriam bem melhor. Ah, com certeza. Depois de muito conversar com o BILLY pela fresta da porta do elevador, fui convencido por ele, na sua linguagem de cão, que o melhor era eu permanecer mesmo lá dentro daquela gaiola, até que alguém limpasse aquela porcaria. Sem alternativa (fui totalmente convencido por BILLY através de seus argumentos que, em dado momento, vendo que eu, mesmo já quase me mijando, não estava me importando com minha segurança e insistia em que ele me deixasse sair do elevador, partiu para uma dialética mais incisiva e me mostrou os dentes) acabei por me aliviar ali mesmo conduzindo o jato (e que jato!) pela frestinha entre a porta do elevador e o piso do corredor. Resultado: ao terminar e já novamente dono de minha consciência, desci e comuniquei o fato ao porteiro que comunicou o fato ao síndico que desceu imediatamente e me de uma esculhambação por eu ter mijado no poço do elevador e disse que me enviaria posteriormente uma multa. Ah! Insensatez administrativa... É claro que depois fui reclamar com o BILLY e ele me pôs pra correr, de novo com os dentes à mostra, (BILLY era muito sensível) me fazendo ver que estava indignado por eu ser mal-agradecido a ele quando tentou me avisar do risco que eu corri. Depois compreendi que o melhor mesmo era desculpar o pobre BILLY e compreender que ele só quis me ajudar. Acho que as pessoas deveriam compreender mais os animais, principalmente o melhor amigo do homem. Algumas não compreendem e são mal-agradecidas, tornando nosso convívio com eles muito difícil. Mas o que me levou mesmo a escrever isto foi a saudade do BILLY, que hoje não está mais conosco. Algum perverso colocou veneno por debaixo da porta dele e BILLY hoje está morto. Muito morto. Mortíssimo. Que saudade do BILLY!


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